Na história de qualquer festa de sucesso, nem tudo são rosas. Pensando nisso nós, do Informe Eletrônico, lançamos a proposta para o DJ Bassick (que também é produtor, pesquisador, divulgador...) – de nos contar, “como numa conversa de mesa de bar” (palavras do próprio), como foi concebida uma das maiores festas periódicas de Salvador.
“Por carência!” Revela. Não se trata de chegar ao extremo e dizer que em Salvador não havia festas de Drum and Bass na época. Há um ano, mais precisamente. Trata-se apenas do bom senso de perceber que a cidade não oferecia festas de batidas quebradas que bastassem para os DJs e amantes. “...ja tinham acontecido festas como a DB pelo Pragatecno. Rolava no Havana, era muito bom.. aconteceram algumas edições... Mauro também tinha uma festa chamada D-breaks, que era no clube de engenharia. As festas eram muito boas, só que não estavam mais acontecendo!” – Que bom! A nação Drum and Bass agradece. Sim, a nação Drum and Bass a.k.a Brasil: a Jump Up rompeu fronteiras e, graças ao trabalho sólido e árduo de Bassick, a festa já é nacionalmente conhecida, tendo apresentado nomes como Patife, Andy, Lovsta, Poeck, Lui J, Chris DB, Lucky MC, entre outros – tendo sido, muitos deles, integrantes de Line Up de grandes eventos, como o Skol Beats.
Desenvolvendo cada edição, a festa se consagrou e o DJ Bassick conseguiu parceria com a DJ Sound, Essential Mag e D ‘n B Online (que acompanha resenhas da festa desde a primeira edição), e chamou atenção para veículos como o jornal de maior circulação em Salvador e programas regionais como o Soterópolis, que teve a Jump Up como matéria foco e uma de suas edições. Contando com review e fotos a cada edição, a festa ganhou conhecedores e admiradores em todo o país – fruto de muito trabalho e investimento do idealizador, sempre preocupado em agregar conhecimento e ampliar a visão dos admiradores locais, trazendo os nomes já citados para a realização das festas. Esse resultado é o melhor que se pode ter, é o que ele cita como melhor acontecimento na história da Jump Up. O fato de ter atingido olhares de fora para o seu projeto não é do que ele mais orgulha, até porque outras festas conseguiram o mesmo, mas fazer com que isso aconteça edição pós edição e saber que a Jump Up tem público fiel dentro e fora do estado é o que mais vale à pena: “a maior dificuldade não está em comprar um carro, o difícil é mantê-lo” relaciona.
A festa que nasceu de uma necessidade do DJ – “juntei a carência com a vontade de fortalecer a cena” – também coleciona passagens de “friozinho na barriga”. Muito descontraído, Bassick nos conta do dia em que esperou o DJ 3ix durante três horas no aeroporto, em plena madrugada, e ele não chegou... Só a título de informação: até hoje não se tem notícia. Comenta da passagem do Andy, que, graças ao atraso do seu vôo, chegou em cima da hora da apresentação – “essa você pode acrescentar nos medos!!!” – e finaliza dizendo que são esses momentos de frio na barriga que fazem com que ele se sinta na primeira vez, a cada edição. Lembra, ainda, do comentário do DJ Patife ao acabar seu set em uma das edições de 2008, “sabe quando vocês se sente de alma lavada?” – foi dito pela estrela do Drum and Bass brasileiro, mas, com certeza, a sensação de alma lavada ficou pra o DJ Bassick também.
Falando da responsabilidade de manter uma festa numa cena que concordamos em dizer que ainda é fraca e emergente, Bassick cita a não-participação de DJs de Drum and Bass como fator, no mínimo, inusitado, e faz um comentário: “Como é a única festa de Drum and Bass, certo seria os DJs do estilo apoiarem, correto? Errado! Não é bem assim que acontece, esse é um dos receios.” Para ele, não faz sentido o investimento que se faz em tracks, discos e equipamentos para que não haja onde tocar ou festa onde dançar e conclui: “Qualquer cenário cresce quando tem pessoas pensando em conjunto, ok? E para que isso aconteça, as pessoas têm que pensar mais na MÚSICA. As pessoas têm que trabalhar com um único intuito: A MÚSICA. se vc pensar na musica, o resto vem como resposta.”
Quando partimos para a matemática, a resposta vem rapidamente! A lotação da Boomerangue é de 200 pessoas, 190 é a média de público e 220 foi o recorde da Jump Up, em Julho deste ano. Sendo que em Julho do ano passado, 210 lotaram a festa. Há alguém, além do DJ Mascotto, que é residente, que tenha contribuído de forma especial para o desenvolvimento da Jump Up? – pergunto. Manoela Carvalho e Fernanda Amorim, juntamente com o DJ Toshiro (antes amigo que DJ), contribuem de forma proativa, “de uma maneira que você não tem noção” – afirma.
Dos cinco anos que Bassick tem como DJ, 1 pertence à história da Jump Up. Entre nomes amigos o DJ destaca Mauro Telefunksoul como inspiração maior. A figura de um padrinho não existiu na carreira dele, mas inspiração e apoio não faltaram. Sempre com muita vontade e dedicação. Mesmo tendo encontrado ajuda de outros DJs e da amiga e produtora Bianca Prudente, o DJ deixa claro que não se pode esperar nada de ninguém e buscou sempre atingir os seus objetivos sozinho.
Encerrando no mesmo entusiasmo em que começamos, pergunto se ele deseja deixar alguma mensagem, algo direcionado ao público de Drum and Bass ou aos leitores do IE, e ele manda ver:
“Não achem que manter uma festa mensal como a Jump Up são mil maravilhas. É ralação, é dor de cabeça. É sofrer psicologicamente e financeiramente! Portanto, a galera que gosta do estilo e que quer tocar o estilo, que apoiem para a gente manter este sonho vivo!”
Como não existe possibilidade de este sonho acabar, pelo menos não por enquanto, Bassick convida Bungle, grande nome do DB nacional. Entre parcerias de produção com o DJ Marky e turnês pela Europa, o jovem DJ de São Paulo marca presença nas listas de recordes de vendas em sites de download e acaba de confirmar a turnê pelo Japão, de onde sairá direto para a 15ª edição da Jump Up que acontece dia 12 de setembro na Boomerangue.
“Big Up !”
Júlia Galvão (Gema Carioca Consultoria)