“Eu não tenho problema com a cena. Eu sou a cena.”
Plagiando Cláudia Assef em Todo DJ já Sambou (que, aliás, é base primordial para o desenvolvimento desta matéria) – digo: OK, abram alas para o trator Ricardo Guedes.
Ele aprendeu a mixar na primeira vez que ouviu uma virada, e é assim que ele ensina. Tá certo, então! Afinal, “[...] mixar é dez vezes mais fácil que andar de bicicleta. É como virar estrela, tem gente que consegue, tem gente que não”. Alguém se habilita à uma aulinha com Guedes?
DJ há quase 30 anos – e muito bem, obrigado – ele está convencido de que nasceu para isso e mantém sua linha oscilando entre o Underground e o Mainstream. Inteligente? Talvez. Num mercado onde as pessoas tocam porque têm contatos e não porque têm talento, manter uma linha de set que agrade à gregos e troianos é estrategicamente inteligente, ou... Talvez tenha sido experiência acumulada.
Tudo começou no Papagaio Disco Club, lá pelos idos anos 70. Tuta Aquino, o “playboyzaço que tinha equipamento em casa”, adaptou dois fones no seu mixer (encomendado e feito especialmente para ele – sim, o cara era playboy!) e virou uma vez para o Ricardo ouvir. E foi só isso! Nascia um dos maiores nomes da cena eletrônica nacional. No tempo em que “ser DJ era subemprego” e os profissionais “eram colocados abaixo da merda”.
Passado o momento do “abaixo da merda” (e nem tão passado assim, convenhamos), ele hoje comanda o programa Volume 97, na Energia 97, todos os sábados, às 17:30 – com experiência de quem carrega o título de ter sido um dos pioneiros no rádio. Ainda hoje se dói pela falta de visibilidade que o DJ tinha na época, porque as mixagens não eram atribuídas à quem as fazia e tudo ocorria no anonimato. Aliás, Ricardo Guedes tem uma coleção de reclamações para com a mídia (e todas muito justas, devo comentar!). São só lamúrias de quem deu a vida por uma profissão que hoje é tão banalizada. São comentários de quem viu a profissão nascer e pertencer aos meninos que usavam fraldas na época em que ele passava duas horas para comprar um vinil no Museu do Disco.
Além da experiência, dos programas de rádio, do pioneirismo e profissionalismo inabaláveis, Ricardo Guedes produz e lança CD’s anualmente. Seis deles são da coletânea House Definition, que levou o nome de um dos seus programas. Atualmente se divide entre freqüentes gigs, nos melhores clubes das capitais brasileiras e em participações em super eventos como o Skol Beats e Spirit Of London, onde sustenta a bandeira da House e mostra por que é ícone.
Uma coisa é fato: no dia 8 de Novembro a Madrre vai ver e ouvir 30 anos de experiência mixando com o entusiasmo de quem ama o que faz e deixa isso claro, por trás de todas as polêmicas e de toda a acidez de comentários. A Madrre está longe de parecer com a Toco*, “o céu” de Ricardo Guedes, e não haverá duas ou três mil pessoas para ouvi-lo tocar*, mas as poucas centenas que ali estiverem, vão guardar a noite do dia 8 de Novembro de 2008 com o devido valor que deve ser dado à um dos precursores da cultura da Dance Music no Brasil.
• No livro, o autor comenta sobre a Toco e o prazer de tocar Black para milhares de pessoas, e chega a chamar o lugar de Céu.
Júlia Galvão (Gema Carioca Music)